Última viagem

Hoje o dia promete.
Fomos acordados antes do alvorecer. Colocados em caixas apertadas e em um caminhão, partimos para uma viagem, que soube depois, seria a última. Com o afastamento de nossa condução, olhei uma última vez para o lugar que poderia ser considerado nosso lar. Lá tínhamos abrigo, comida e companhia. Bastava cacarejar comer, correr e engordar.

As caixas não eram confortáveis, apertadas e vazadas permitiam que vento frio passasse, nos fazendo tremer. Na viagem somente pudemos recuperar parte do calor, graças aos nossos amigos dos andares de cima, que não tinham preocupação nenhuma em controlar seus corpos. Um pouco de calor em troca de muita sujeira.

Indignado com a situação me perguntava o tempo todo o que estaria acontecendo, mas sem resposta. Inútil também seria perguntar a algum de meus colegas, já que com a mesma idade possuíamos também as mesmas experiências.

Na ânsia de mudar minha situação consegui, com muito esforço passar por um buraco da caixa, coisa que foi considerada heróica pelos colegas, mas que pela minha opinião, considerei apenas normal, já que era mais miúdo que a maioria. Deste modo, a mãe natureza apenas me favoreceu.

Após sair da caixa, necessitei de muito equilibrio e persistência para subir pelas caixas e atingir o topo, podendo gosar de vista privilegiada da situação e de um gostinho de liberdade.

Enaltecido por meus colegas de granja e, agora de caminhão, acabei por perder o equilíbrio e despenquei para o chão que passava muito rápido. Tive ainda poucos segundos de consciência quando um carro branco que vinha atrás do nosso transporte selou minha sorte.

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